Sexta-feira, 26 de Outubro de 2007

As fraternas relações entre Sobrado e Gandra continuam a dar que falar. Já contei umas poucas estórias sobre estas relações raianas ( entre concelhos), mas quanto mais rebusco na arca das memórias mais estórias me aparecem.

A estória de hoje relata a primeira visita de um gandarense ao mar. Apesar de ambas as freguesias se encontrarem perto do mar, aquela expressão do " nunca vi o mar" ainda persistiu até bem pouco tempo.

Indo sobradenses e gandarenses numa excursão ( não sei onde) o autocarro toma o rumo da praia. O intuito era almoçarem e seguirem viagem, deliciados com a vista e com o almoço.

Chegados à praia, começaram a sair os passageiros do autocarro, contemplando com maior ou menor entusiasmo a vista. Mas, um dos gandarenses que a maior quantidade de água que teria visto até à data seria a Pesqueira do rio Ferreira, em Sobrado, ficou extasiado. Um dos sobradenses apercebendo-se da admiração do gandarense , chega-se perto dele e pergunta-lhe:

- Então Manel que tal?

- Eh pah isto é tanta auga que dava para regar Moreiró todo ( um lugar da freguesia de Gandra) e ainda um bocadico  de Sobrado...

Risota geral.


sinto-me:
música: O mar enrola na areia

publicado por estoriasdaminhaterra às 14:59
Quarta-feira, 24 de Outubro de 2007

Sobrado não escapa ao milagre de Fátima. Anualmente muitos são os sobradenses que rumam a esse santuário, uns para cumprir promessas outros a título de passeio. As comemorações dos 90 anos das aparições, com a consequente inauguração da nova igreja foram motivo para levarem mais uns tantos sobradenses ao santuário.

A estória de hoje narra a viagem de um sobradense aquela localidade, que começou logo com as já habituais peripécias sobradenses .

 

Os preparativos

Chegado a casa com a notícia de uma excursão a Fátima, o marido tenta convencer a esposa a viajar com ele até ao santuário. Esta, por sua vez mostra-se renitente, alegando que seria muita confusão. Decide não ir. O marido não se dá por achado e avisa-a:

- Não vais!? Então pagas a minha ida!

Vitória, viagem paga, faltava agora a merenda. A mulher alega que não sabe o que fazer para o lanche, o marido, muito pronto explica que não h á nada mais fácil e diz-lhe o que fazer:

- É muito simples mulher, eu vou ao campo e trago-te uns tomates para "selada" ( vulgo salada) e umas cenoiras ( cenouras) que temos lá muitas, tu parte-las aos fios como tu sabes e fazes uma selada com cebola, azeite, vinagre, sal e pimenta. Depois assas um bocado de carne e eu como assim isso, é uma maravilha.   

 

Fátima aqui tão perto

A viagem fez-se sem percalços , com uns terços rezados pelo caminho e uma devoção demonstrada com maior ou menor intensidade, conforme os casos.

Chegados a Fátima, e depois de comidos e bebidos havia que visitar o santuário e obviamente a nova igreja.

O sobradense entra na igreja e senta-se. Comtempla o espaço de linhas modernas. Absorve cada recanto com uma sede insaciavél de saber e de ver.

Regressa à " camenete " ( camioneta) com a alma lavada. Os inevitáveis comentários à arquitectura da igreja começam a trocar-se entre os passageiros. Uns que era grande, outros que o Cristo parecia que ia cair etc. mas o sobradense impõe a sua visão, havia visto vinte (?) apóstolos, que segundo ele apenas a fé permitia ver ( já que mais nenhum dos passageiros parece ter visto). Obviamente os restantes passageiros questionaram a parte dos vinte apóstolos, mas rapidamente o sobradense explicou:

- Eram dez (?) de cada lado, e até mesmo o Judas consegui ver.

- Oh, tinha o saco. diz um outro sobradense .

- Nãooo , estava a olhar  por cima do ombro com ar desconfiado..., retorna o sobradense com uma pacatez e segurança de quem sabe o que viu.

E foi com esta descrição da nova igreja que chegou a Sobrado e a relatou a quem quis ouvir, com a certeza de quem sabe muito bem o que viu em Fátima!

 


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sinto-me: com a fé abalada
música: o avé

publicado por estoriasdaminhaterra às 11:47
Segunda-feira, 22 de Outubro de 2007

As mortes por acidente de viação são sempre bruscas e, por norma abalam familiares e conhecidos. Há cerca de 20 anos morreu um sobradense numa situação dessas. Um acidente de mota em Ovar que acabou por vitimar condutor e acompanhante. A família, abalada fez seguir em representação para acompanhar o cortejo fúnebre até à terra, quatro elementos da família. Pai, primo, tio e tia ( freira).

Vindo em cortejo fúnebre a família vinha queda e muda, o tio e a tia ( freira) em oração compenetrada e o primo a conduzir. Chegados à ponte D. Luís, no Porto, e como para quebrar o silêncio o pai da vítima, quem sabe a pensar nas obras que estava a fazer cá em Portugal ( visto que era imigrante na França) pergunta de rompante, " Olhai lá a como é que está o cimento cá?!"

Ninguém lhe responde a não ser a cunhada, que olha de canto e com o tom de voz entre a indignação e a tristeza lhe ordena que se cale. O pai, condoído ainda protestou, que gostava de saber a como estava o cimento cá em Portugal, que à época estava sempre a subir. Ninguém lhe respondeu. Seguiram até Sobrado, com o jovem sobradense sobre terra. Não se sabe se terá ficado a saber o preço do cimento ou não, o certo é que hoje, ultrapassado o trauma da morte brusca ficou o preço do cimento como referência...



publicado por estoriasdaminhaterra às 10:24
Quinta-feira, 18 de Outubro de 2007

Esta estória conta o meu avô a propósito de um colega de trabalho. Eram ambos carpinteiros, trabalhavam muitas vezes nas obras, a fazer estruturas para os telhados. Ao que conta o meu avô, o colega era um pândego número um, e as suas " tiradas de mestre" eram quase uma constante. De uma das vezes, andando os dois a serrar barrotes para fazer um telhado lá para os lados de Valongo, e não tendo a fita métrica à mão, diz o pândego " Oh António, não te preocupes, eu deito-me e tu medes o barrote por mim, é 1,80 sem falha!"

E esta hen ?



publicado por estoriasdaminhaterra às 10:00
Segunda-feira, 15 de Outubro de 2007

 

Sobrado não tem escapado à onda de assaltos que assola o país, muito embora até num assunto tão grave como este ainda teime em manter a sua individualidade, recusando-se a essa globalização que arranca caixas multibanco, anda aos tiros e assalta joalharias. Sobrado tem os seus ladrões, mas à moda antiga ( por enquanto, e da minha parte que assim continue).

Assim se roubaram umas galinhas na aldeia de Ferreira. Tarde da noite uma vizinha acordou com o cão a ladrar. O ladrar do cão dizia que andava alguém no terreno do vizinho. A mulher veio à janela e viu no negro da noite um " fox " que se mexia e que procurava qualquer coisa. a mulher, corajosa abriu a janela e advertiu o ladrão que ia chamar o dono (!?). O certo é que não chamou e ao outro dia lá faltavam 2 galinhas e 3 garnizas .

O dono, que desconfiou de quem seria o ladrão, foi cortar erva ( para disfarçar) num terreno perto da casa do noctivago . Enquanto cortava a erva mirava a casa, tentando descortinar o galinheiro. Descoberto o galinheiro dá de caras com duas garbosas galinhas ( as suas) e o "dono" das mesmas. Não se dá por achado. Gaba os animais ao recente dono. Que teria um almoço no domingo e a galinha vinha mesmo a calhar, se a vendia.

- Vendo, são umas galinhas que é uma categoria, quinze euros é o preço! remata o recente dono.

O suposto comprador alega que iria terminar de cortar a erva e que no entretanto se decidia. Acabou por decidir chamar a polícia, que provados os factos ordenou que fossem devolvidas ao verdadeiro dono, já que as garnizas como por magia se haviam esfumado na noite...

 

 

 


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música: Ficheiros Secretos
sinto-me: camuflada

publicado por estoriasdaminhaterra às 16:34
Segunda-feira, 08 de Outubro de 2007

Realmente até os animais sobradenses não conseguem deixar a terra, este fim de semana um dos bichos sobradenses foi  protagonista de um regresso a casa fantástico que deixou, quem o conhecia enternecido.

O protagonista, um gato, que pelo mês de Maio teve de fazer uma visita ao veterinário graças a uma espinha atravessada na boca, regressou a casa depois de ter desaparecido a cerca de 8 Km de casa. 

Chegado ao veterinário, em Alfena ( freguesia vizinha) , o gato, excitado da viagem e do espinho atravessado, colocou-se em fuga. Os donos ainda deambularam pelas ruas em busca do felino, mas a busca revelou-se infrutifera. O gato desapareceu sem deixar rasto.

Cinco meses volvidos, o trauma do gato perdido superado, qual não é o espanto dos donos quando vêm o bichano entrar em casa. A gato percorreu cerca de 8 km em terreno desconhecido e correndo sabe-se lá que riscos para regressar a casa são e salvo. Se falasse que estórias teria ele para contar depois de cinco meses de viagem!?



publicado por estoriasdaminhaterra às 14:51
Segunda-feira, 01 de Outubro de 2007

A estória de hoje é uma estória familiar. Daquelas bem portuguesas.

Estando a minha família, aqui há uns anos no velório de uma tia ( que faleceu solteira e sem filhos), a família mais chegada  ia demonstrando o seu sentimento de perda com mais ou menor expressão, conforme o grau de afinidade que tinha com a tia falecida. Era uma tia querida para grande parte dos sobrinhos e dos irmãos, sendo que se juntou grande parte da familia para o velório, incluindo aqueles que não aparecem noutras ocasiões que não baptizados casamentos e velórios.

Estando a chegar a meia noite, e as horas a custar a passar, entra um rapaz alto e forte no velório que prontamente cumprimenta a restante família, expressando as suas condolências. Era um daqueles sobrinhos que poucos conhecem mas que mesmo assim lhe reconhecem o parentesco.

Ora acontece que uma irmã da falecida ( conhecida pelas suas saídas perspicazes) não reconheceu o sobrinho, sendo que no meio de sentida e condoida dor, quando este se afasta, levanta a cabeça em direcção ao rapaz e pergunta à pessoa que estava ao lado " quem era aquele!?", tentando dessa forma localizar a categoria da condolência. Foi-lhe então explicado, em surdina, que era filho de uma sobrinha, segundo sobrinho da falecida irmã e seu também. A nobre senhora, olha-o novamente de cima abaixo,acena com a cabeça e lança o repto " É cá um centrião!". Risota total ( de quem ouviu na hora e de quem ouviu depois o relato). Além do inusitado comentário, a mana fez também um trocadilho com o verdadeiro nome, de centurião para centrião.

 

Centurião- soldado romano, conhecido pela sua robustez fisica. Em Sobrado era usual chamar centurião a homens fortes e robustos.


sinto-me: comentadora
música: Carpindo

publicado por estoriasdaminhaterra às 16:49
O blogue estoriasdaminhaterra recolhe estórias da tradição oral sobradense bem como factos da vida comum de uma pequena vila dos arredores do Porto...
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