Aqui está uma estória familiar. Acredito que como já se passaram muitos anos, já não há grande perigo de ferir susceptibilidades familiares e a estória é mesmo merecedora de registo.
O meu bisavô era um homem de fibra, daqueles que olhamos e temos instintivamente respeito e orgulho ( no caso familiar).
Era recto e duro, e nem mesmo no leito da morte deixou os seus princípios e teimosias de lado.
Gostava de comer ( carne de porco preferencialmente) e beber bem, e nem mesmo quando um médico o advertiu para a necessidade de fazer uma dieta, sob pena de se não a cumprisse não era homem para muito tempo, não se deu por achado respondendo-lhe prontamente " Morra marto morra farto", ou seja morrer por morrer, morrer satisfeito.
Com efeito nunca fez a dita dieta, e a advertência que o médico lhe tinha feito não tardou em chegar. Começou a quebrar e acabou na cama. Sentindo que os seus dias estavam próximos do fim, informou ainda que gostaria de provar um porquito que estava na corte. Fez-se a vontade ao pai. Marcou-se a matança do bicho. Á noite a filha preparou-lhe uma fevera para o pai provar o dito animal. Mastigou, mastigou e acabou por a deitar no prato sem a conseguir engolir dizendo com as forças que lhe restavam:
- Isto já não passa, mas um copito ainda vai! Bebendo-o de seguida.
Durante a noite, faleceu, satisfeito.