Isto das rivalidades entre terras tem muito que se lhe diga. Sobrado e Gandra, como já referi em posts anteriores são inimigos de estimação, cultivando essa amizade ao longo de séculos através de carinhosas estórias depreciativas da inteligência da freguesia rival. Normalmente, as estórias são sempre as mesmas em ambas as terras, só mudando os protagonistas consoante quem as conta. Obviamente que as conto à moda de Sobrado ( não fosse eu sobradense!), puxando sempre a brasa à minha sardinha.
Os de Gandra gabavam-se muito do sino da torre sineira da igreja de Gandra, que tocava como nunca se ouvira nas redondezas, que tomaram os sobradenses ter um assim...
Ora acontece que, certo dia os sobradenses decidiram pregar uma partida aos de gandra e testar de facto de o sino era mesmo bom. Assim, á socapa pela noitinha ataram um fardo de palha ao cordel do badalo e puseram-se à coca. Nisto aparece um burrito que, ao ver tão lauto banquete, não se dá por achado e começa a tirar-lhe a prova. Coisa nunca antes vista, porque de cada vez que o burro tirava um bocado do molho de palha o sino tocava. Tendo o bicho achado a palha sobradense de tão boa qualidade, começou a comer com mais afinco, intensificando as batidas do sino, de tal maneira que, quem ouvia parecia o sino a tocar a rebate, chamando o povo. E o povo lá foi, a meio da noite, ainda meio ensonado ver o que se passava, acorrendo em largas passadas à igreja de Gandra. O que foi, o que não foi, o burro que comia a palha, e os sobradenses que encondidos se riam como perdidos com tão caricata cena. Não havia dúvidas, o sino tocava bem.