A casa do " cachopas" ( sita no lugar da Costa, hoje em dia em ruinas e só com um habitante humano) outrora era uma casa "cheia", em todos os sentidos. Apesar de ter sido uma das casas imponentes da aldeia, com o tempo degradou-se tudo ( ou quase tudo), estando actualmente deixada à mercê das trepadeiras e do tempo. A história de hoje passou-se nos aureos tempos da casa, no tempo dos avós dos actuais donos ( Jaquim Cachopas e a sua matilha de 14 cães - também eles provavelmente netos de um dos intervenientes da história).
Como sabem, era comum há cerca de 40 anos terem-se empregados em regime ( de a de comer - trabalhavam e tinham direito à refeição, conforme as casas, mais ou menos faustosa).
Ora um desses trabalhadores " a de comer", por alturas do estio encontrava-se a trabalhar na casa do Cachopas, e havia já algum tempo que havia reparado num canideo ( da raça daqueles que ladra mas não morde), que à hora do "tacho" se prostava ao pé do respeitavél dono, abrindo e fechando o garboso faqueiro de prata, na esperança que lhe caísse um "bocado". Por ora caía-lhe, sendo nessa altura que saída do aposento, com a sensação de missão cumprida, para se deitar na varanda a deleitar o " bocado".
Mas, o bocado havia de lhe sair caro, num dos dias desse estio tórrido, o patrão não almoçou em casa, mas o canídeo não se deu por achado, com aquele ar de carneiro mal morto, entra na cozinha e senta-se ao lado do trabalhador. Este ao príncipio não lhe ligou muito, mas o seu insistente abrir e fechar da boca, amoleceu-lhe o duro coração e enterneceu-se do animal.
-Se calhar tens sede- pensou.
Pegou na caneca cheia do liquido de Dionísio e na primeira oportunidade " deu de beber a quem tem sede".
Diz-se que o animal saiu um pouco cambaleante e que tossiu um pouco, mas desta vez quem ficou com a sensação de missão cumprida foi o "a de comer".