Sexta-feira, 30 de Março de 2007

A casa do " cachopas" ( sita no lugar da Costa, hoje em dia em ruinas e só com um habitante humano) outrora era uma casa "cheia", em todos os sentidos. Apesar de ter sido uma das casas imponentes da aldeia, com o tempo degradou-se tudo ( ou quase tudo), estando actualmente deixada à mercê das trepadeiras e do tempo. A história de hoje passou-se nos aureos tempos da casa, no tempo dos avós dos actuais donos ( Jaquim Cachopas e a sua matilha de 14 cães - também eles provavelmente netos de um dos intervenientes da história).

Como sabem, era comum há cerca de 40 anos terem-se empregados em regime ( de a de comer - trabalhavam e tinham direito à refeição, conforme as casas, mais ou menos faustosa).

Ora um desses trabalhadores " a de comer", por alturas do estio encontrava-se a trabalhar na casa do Cachopas, e havia já algum tempo que havia reparado num canideo ( da raça daqueles que ladra mas não morde), que à hora do "tacho" se prostava ao pé do respeitavél dono, abrindo e fechando o garboso faqueiro de prata, na esperança que lhe caísse um "bocado". Por ora caía-lhe, sendo nessa altura que saída do aposento, com a sensação de missão cumprida, para se deitar na varanda a deleitar o " bocado".

Mas, o bocado havia de lhe sair caro, num dos dias desse estio tórrido, o patrão não almoçou em casa, mas o canídeo não se deu por achado, com aquele ar de carneiro mal morto, entra na cozinha e senta-se ao lado do trabalhador. Este ao príncipio não lhe ligou muito, mas o seu insistente abrir e fechar da boca, amoleceu-lhe o duro coração e enterneceu-se do animal.

-Se calhar tens sede- pensou.

Pegou na caneca cheia do liquido de Dionísio e na primeira oportunidade " deu de beber a quem tem sede".

Diz-se que o animal saiu um pouco cambaleante e que tossiu um pouco, mas desta vez quem ficou com a sensação de missão cumprida foi o "a de comer".



publicado por estoriasdaminhaterra às 14:30
Sexta-feira, 30 de Março de 2007

Façam chegar as vossas histórias através do mail " storiasdaminhaterra@sapo.pt. Não se acanhem, obrigada e boas estórias...



publicado por estoriasdaminhaterra às 11:17
Quinta-feira, 29 de Março de 2007

A altura da quaresma termina com as celebrações pascais. Sobrado não é excepção no que diz respeito a comemorações pascais. Durante todo o dia de Páscoa, as " cruzes" dividem-se pela ( recente) vila, e lá vão de casa em casa txim txim de sino afinado, cruz mais ou menos direita ( consoante a hora do dia) saco debaixo do braço e leitura pascal na ponta da lingua. 

É um dia alegre na freguesia ( principalmente para o compasso e no final do dia junto á cruz do passal).

Ora a história que vou partilhar, passou-se há muito tempo, num ano que o meu avô foi juiz da cruz ( foi ele quem me contou esta história) e que, a meu ver preconiza todo o espírito pascal vivido neste dia.

Depois de um dia estafante a "carregar a cruz" , chegados a Campelo, ainda faltavam "bater" algumas casas, o meu avô olha para o fundo do passal e vê as cruzes a recolherem à Igreja Matriz, pára e reflecte ( tão depressa quanto pode) e toma uma decisão.

Vira-se para alguns elementos do grupo, e de rompante, ordena que sigam em direcção à igreja enquanto ele e mais dois ( antes que escureça " batem" as casas que faltam), decisão que tomas-te, qual Judas que atraiçoa os compatriotas, e porquê? Logo que ordena, torna um dos comparsas por resposta, e em jeito meio insolente meio desiludido " Pois só queres beber tu"...

Há lá maior espirito de amizade e companheirismo, bendita Páscoa...



publicado por estoriasdaminhaterra às 17:23
Quinta-feira, 29 de Março de 2007

O Camilo era uma daquelas personagens típicas de Sobrado, daquelas pessoas que independentemente das " patifarias" que façam não deixam de ser queridas pela população.

A primeira lembrança que tenho do Camilo da Pêra é dele e da bicicleta de pedal e do rádio com a cassete do São João virem trazer o Jornal ao meu pai todos os domingos ( Tema para outra história).

As histórias vieram depois, umas atrás das outras durante a minha infância e adolescência até à hora da partida do Camilo ( já na minha idade adulta).

A história que vou contar hoje é uma das partidas que o Camilo pregou à minha família, ao meu avô mais concretamente.

O meu avô caracteriza-se por quatro coisas, o fato preto com um chapeú igualmente preto, o bigode, a estatura e a bicicleta ( usada para ir à missa ). O Camilo caracterizava-se por outras quatro: ser o Camilo da pera, o rádio, a música do são joão e... a bicicleta, esta última uma paixão coincidente com a do meu avô.

O meu avô sempre foi um cristão assíduo às palestras dominicais ( e não só) , ia ( e vai) de bicicleta (bastante mais cedo do que a hora da missa), estaciona o veículo à entrada do adro da igreja, e fica sentado nos bancos da frente. O hábito saiu-lhe caro naquele dia, porque misteriosamente a bicicleta desapareceu do estacionamento habitual e o meu avô veio embora à boleia.

Quem foi, quem não foi, o António Palheira estava intrigado... O meu pai foi dar uma volta de carro a ver se via a bicicleta ( vai que tinha ido dar uma volta sem avisar o dono e se tivesse perdido!). Não encontrou a bicicleta, encontrou o Camilo da pera.

- Oh Camilo não viste a bicicleta do meu pai? Estava no adro e desapareceu. Dou-te mil escudos se a encontrares.

- Eu não a vi, mas eu vi um fulano que, hum ,não sei... Se eu a encontrar, eu digo-te.

A conversa acabou ali, e o meu pai voltou a casa com as mãos a abanar. Mas com a intrinseca certeza que o Camilo " encontraria" a bicicleta.

Dois dias depois ( acho eu que foram), aparece o Camilo, a bicicleta tinha aparecido, deitada num silvado atrás da igreja... Ganhou mil escudos.

O tempo passou, e de vez em quando perguntavamos:

- Oh Camilo foste tu que pegas-te na bicicleta, diz lá...

Ele ria-se e encolhia os ombros, no jeito dele de garoto que é apanhado numa travessura...

Mudava de conversa e estudava a próxima pantomina...



publicado por estoriasdaminhaterra às 15:37
Quinta-feira, 29 de Março de 2007
Criei o blog hoje...  A ideia já tem algum tempo mas só agora a materializei. Tem como intuito  dar a conhecer a sobradenses ou não as histórias que cresci a ouvir. Sao histórias na maior parte contadas pelo meu avô, narram acontecimentos mais ou menos reais de habitantes da terra. Portanto qualquer semelhança com alguma história que o possivel leitor (!?) conheça, pode não ser pura coincidencia...


publicado por estoriasdaminhaterra às 15:21
O blogue estoriasdaminhaterra recolhe estórias da tradição oral sobradense bem como factos da vida comum de uma pequena vila dos arredores do Porto...
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