Quinta-feira, 26 de Abril de 2007

Embora tenha nascido depois do 25 de Abril é dos feriados nacionais que mais me diz ( não sei porquê!), fico o dia todo a assistir ás comemorações a e trautear o hino nacional, a grandôla, os vampiros etc.

Por isso mesmo, tenho verdadeira predilação pelas estórias sobradenses do pós 25 de Abril, sendo elas ( num registo um pouco "barretista", as estórias da evolução sobradense e da sua emancipação social). Bem, agora que já " flosofei" é hora de ir ao que interessa. 

Depois do 25 de Abril viviam-se tempos conturbados que variavam entre a euforia e a incerteza do futuro. Ora os sobradenses sempre tiveram um espiríto mais prático não se preocupando tanto com o futuro mas sim com o presente. Os ideais comunistas e socialistas ( que defendiam o corporativismo) tinham lançado algumas sementes em terras sobradenses. Dizia-se  que as terras iam ser divididas de igual maneira. Quem tinha muito ia ceder a quem não tinha nada ou quase nada, seria feita uma reorganização estrutural de fundo, um novo ordenamento do território.

Era assim que pensavam alguns dos "caseiros" e uns tantos sobradenses.  Enquanto uns falavam em liberdade de expressão e ideais políticos os sobradenses falavam em ordenamento do território, e segundo o que dizem era um mimo ver um habitante do lugar de Ferreira fazer contas à vida.

- Ali a quinta do Paranhos vai ser dividida vai calhar tanto a fulano a cicrano e a baldano, a mim vai-m calhar a cortinha de baltano que fica ali encostada à minha...

Até hoje continua tudo igual...



publicado por estoriasdaminhaterra às 09:41
Terça-feira, 24 de Abril de 2007

Outra estória digna do "anedotório" sobradendense está mais uma vez relacionada com bicicletas.

Vindo o 'Fim a descer ( mais uma vez) a serra de Valongo, decidiu ver qual o máximo da velocidade da bicicleta. Pedalou, pedalou e pedalou até meio da descida do alto da serra de Valongo, vindo de lanço ( sem dar aos pedais) até à antiga escola de Balselhas. Nessa altura, retomou o pedal e pedalou até à curva do " cheta", indo mais uma vez de lanço até casa. Chegado a casa pendura a bicicleta no suporte e vai dormir. Ao outro dia de manhã ao chegar ao pé da bicicleta , para seu espanto a roda da bicicleta ainda estava a dar a última volta...



publicado por estoriasdaminhaterra às 10:38
Segunda-feira, 23 de Abril de 2007

Sobrado, para quem não sabe é terra de ciclistas. Profissionais ( dois deles até ganharam a volta a Portugal em bicicleta - Joaquim Leão e Nuno Ribeiro), e  amadores, é da categoria dos amadores que conto a estória de hoje.

O Serafim era um apaixonado pelas bicicletas, e protagonizou algumas das estórias mais caricatas de sobradenses versus bicicletas. Esta é uma delas.

Vindo ele a descer a serra de Valongo a roda da frente da bicicleta saiu do eixo. Fosse outro ciclista menos experiente ter-se-ia espetado, mas o 'Fim não, num acto heroico equilibrou-se apenas na roda de tràs, mantendo-se ainda a par da roda fugitiva.

Desceu a serra toda nestes preparos, até que em frente ao Peixoto, a roda fugitiva deu de si e aproximou-se mais da bicicleta, num eximio gesto o 'Fim, desloca o manipulo um pouco para a esquerda e encaixa novamente a roda no devido lugar, pedalando então tranquilamente até ao bairro da CIFA.



publicado por estoriasdaminhaterra às 10:08
Segunda-feira, 23 de Abril de 2007

Mais uma estória contada pelo meu avô. Ele diz que se contava na terra mas que não era de pessoas da terra, não interressa porque eu faço de conta que é, até porque podia muito bem ter acontecido em Sobrado.

Na altura das sementeiras ( ou seja por este tempo) haviam dois lavradores, de iguais posses mas de diferentes modos. Modos de tratamento aos funcionários entenda-se. Enquanto um dos lavradores oferecia lautos petiscos aos trabalhadores, o outro era bastante peco na alimentação fornecida aos  trabalhadores.

Ora acontece que, certo dia , andando os trabalhadores de ambas as casas lá para os lados da agra a meter leiva em campos contíguos, chega a hora do almoço ( 9 h e 30 minutos da manhã).

Aparecem então as flhas dos respectivos lavradores, cada uma com a sua cesta enfeitada de flores, trazendo no interior o almejado repasto. Apesar da decoração ser parecida o repasto não era. Enquanto uns trabalhadores comiam a bom comer, os outros faziam que comiam.

Recomeçada a lide, os que tinham enchido a pança trabalhavam a " bom trabalhar", enquanto os outros " faziam de conta que metiam leiva.

Chega o lavrador peco e ao ver a figura dos trabalhadores pergunta-lhes:

- atão carago que diacho vem a ser isto? Não meteis leiva?

Ao que os trabalhadores calmante respondem:

- Vedes aqueles ali como trabalham? Há pouco também comeram, nós fizemos que comemos logo...



publicado por estoriasdaminhaterra às 09:53
Segunda-feira, 23 de Abril de 2007

Esta estória conta o meu avô sempre que se fala da idade do cão lá de casa ou da idade de outro animal qualquer. È uma lenga lenga ( acho eu), ideal para quem não é muito bom aluno a matemática mas tem pretensões de vir a ser. Exercita o calculo mental e faz-nos viajar pela sabedoria popular, aqui vai:

 

A idade de uma sibana* ( perdoem-me os entendidos se escrevo mal , mas nunca vi nenhuma e o meu avô também não sabia como se escrevia, deduzi que fosse assim)

Uma sibana são três anos

Um cão são três sibanas

Um burro são três cães

Um homem são  três burros

Um elefante são três homens 

Agora é fazer as contas...

 

* Sibana: utensílio usado nos carros de bois dos lavradores. Os três anos referêm-se à durabilidade da mesma.



publicado por estoriasdaminhaterra às 09:41
Quinta-feira, 19 de Abril de 2007

Sobrado ainda conserva alguma ruralidade ( apesar de ser vila), sustentando essa ruralidade estão obviamente alguns lavradores.

Um desses lavradores ( cuja actividade principal é o leite) resolveu vender uma vaca que tinha um problema numa pata. Facto normal. No entanto, arranjado o comprador ( um sobradense maduro e personagem de muitas das estórias mais hilariantes de Sobrado) havia que transportar a bovina até a sua nova habitação.

Mas a vaquinha custava-lhe andar, e parece que também era um bocado teimosa e apegada á casa e à familia.

Empurra de um lado, puxa do outro , e nada o bicho não andava. Insulto de um lado, bufadela doutro,nada, nem um centímetro o bichinho se movimentava. O  Sobradense, ao ver a pantomina,  teve uma ideia.

- Oh Manel eu tenho p'ra lá umas galochtas ( galochas) velhas p'ra casa, ia busca-las e a gente calca-as na pata doente...

O lavrador muito versado nas artes do oratório tratou com muita distinção a ideia "bestial" parece que foi de filho para cima e para baixo...

Perdeu-se a oportunidade de um Sobrado Cow Fashion...


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publicado por estoriasdaminhaterra às 16:51
Quinta-feira, 19 de Abril de 2007

Dizem que em tempos haviam muitas bruxas em Sobrado ( agora não sei). O meu bisavô era muito atreito a elas. Parece que gostavam de lhe pregar partidas, eram umas marotas, mas ele não se ficava.

Esta estória é daquelas que se contavam em minha casa à noite, quando eu era miúda ( é claro que depois o sono tardava em chegar e as bruxas não saíam da cabeça).

 

O meu bisavô tinha um carro de bois que cantava ( chiava  ao andar) . De uma das vezes que tinha ido ao monte ao mato, á vinda com o carro cheio, a descer quintarrim o carro deixou de chiar, ao chegar a casa não tinha carro, só os bois. Não tem mais , começa a rezar o pai nosso ao contrário. Elas bem se queixavam ( Oh zé não faças isso ) ele não ligava e continuava até que o carro estivesse no lugar devido. Com efeito, lá ficou no devido lugar.



publicado por estoriasdaminhaterra às 15:10
Quarta-feira, 18 de Abril de 2007

Sobrado é uma terra fértil, em terrenos, em água, em caça e em estórias. Esta é mais uma destas "fertilidades".

Certo dia de verão, lusco fusco estava um dos nossos "ternos" patrícios à pesca na pesqueira.

A cana estava na água à pouco mais de um quarto de hora quando, sem mais nem porquê uma forte pressão fez dobrar a delicada cana de pesca. O Sobradense não tem mais, agarra-se á dita e segura a peça, a luta demorou alguns minutos (para o sobradense pareciam horas), mas o peixe estava vencido, num impulso consegue tirá-lo da água. Numa cena digna de Holywood, o peixe passa por cima do "pescador" e mata uma perdiz que ia nesse preciso instante a passar, e espanto dos espantos, ao aterrar e devido à sua dimensão ( talvez algum "tubarão" autoctone do rio Ferreira) consegue ainda aviar uma pobre lebre que também se encontrava por ali.

Para quem se julga grande caçador, esta estória é um exemplo.



publicado por estoriasdaminhaterra às 09:35
Terça-feira, 17 de Abril de 2007

Esta não é bem uma estória da terra, é mais uma estoria de vida, mas apeteceu-me contá-la à mesma.

Quando fiz seis anos ( já foi há tanto tempo) ingressei na escola primária ( na altura ainda se chamava assim). A minha escola costumava ter um presépio enorme no segundo andar, motivo de orgulho de alunos, docentes e funcionários.

Desde o primeiro ano de escolaridade que sonhávamos sermos nós os autores de tal evento, evento exclusivo aos alunos finalistas.

Mas não há mal que sempre dure nem bem que sempre perdure, a minha turma chegou ( mais ou menos intacta) ao quarto ano e cabia-nos a nós realizar o presépio( entenda-se arranjar musgo para as senhoras professoras depois o montarem).

Mais ou menos no principio do mês de Dezembro a Professora informou-nos da necessidade de ir procurar musgo, marcou-se o dia. Numa quarta- feira, à hora de almoço ( daí a necessidade de comermos rápido) iríamos ao monte mais perto e traríamos a quantidade de musgo necessária à realização do dito presépio. Euforia total. O único senão, estar na escola ante de as aulas comecarem ( à uma da tarde).

Depois de engolirmos a comida e de nos apanharmos em "liberdade" a busca foi incessante, saímos de campelo com direcção à Costa ( pelo caminho fomos fazendo tropelias), entramos no monte pela zona da "fonte" na Costa, fomos pelo recoste, saímos à gandra, zevido, pesqueira e atravessamos o rio pela ponte de ferro em direcção à escola novamente, pelo caminho apanhamos cerca de meio saco de plástico ( daqueles do supermercado) de musgo.  A volta foi grande mas o proveito pequeno, chegamos à escola eram três menos dez... Ao que consta os nossos pais nunca souberam, as professoras ficaram atrapalhadas e parece que nunca mais niguem foi ao musgo ( pelo menos alunos!)



publicado por estoriasdaminhaterra às 17:11
Quarta-feira, 11 de Abril de 2007

A RTP fez recentemente 50 anos, foram 50 anos de história e estórias, mas foram 50 anos que também provocaram estórias, fora do miracoloso ecrã mágico.

As primeiras televisões a chegar a Sobrado foram protagonistas de muitas estórias, estórias do " arco da velha", esta é uma delas.

 

Lá para as bandas da agra havia chegado um novo habitante á casa do lavrador, era um habitante que se ligava à ficha e mostrava gente, gente de verdade que falava c'a gente ( ou pelo menos parecia).

Como manda a regra da boa educação, o novo habitante foi encaminhado aos novos aposentos e instalado. Era o quarto dos donos, que nem sei como vos pinte, talvez como um caos emergente.

A primeira emissão foi histórica, daquelas que ficam para sempre na memória e que nos fazem lembrar um possivel milagre ( c'um que diacho comé c'os Homes se mete lá adentro?!), coisa nunca antes vista!

No entanto, o que ficou mesmo para a estória ( do rol das estórias sobradenses) era o que dizia a mulher á vizinhança.

- Eles diz que quando a gente liga a tlabesão eles bê tudo pa dentro de casa da gente.

Ao que respondiam os vizinhos,

- Oh mulher acha mesmo!?

- Eu cá c'um Deus comigo também acho que não, mas o nosso Jaquim diz que sim, e agora a gente na liga a tlebesão sem antes botar o calçado e a roupa pa debaixo da cama e ajeitar a roupa. E ria-se, mudando o assunto.



publicado por estoriasdaminhaterra às 16:34
O blogue estoriasdaminhaterra recolhe estórias da tradição oral sobradense bem como factos da vida comum de uma pequena vila dos arredores do Porto...
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