Como não podia faltar, cá vai mais uma estória do Camilo.
O Camilo era o jornaleiro oficial lá de casa. O meu pai dava-lhe mil escudos por mês para ele levar o JN ao domingo. Nunca faltava, só se estivesse doente. Por volta das 8.30, 9 horas ouviamos o rádio dele, os seus passos na varanda e o barulho do jornal a cair no chão. De vez em quando resmungava qualquer coisa e ia-se embora. Foi um ritual de anos.
De vez em quando aparecia lá por casa sem ser ao Domingo de manhã, vinha pedir um empréstimo. Dizia que tinha um furo na bicicleta e que precisava de o remendar. O meu pai lá lhe dava mais uns trocados, ria-se e já a caminho virava-se para trás e dizia :
- Fica para o próximo mês, para o jornal.
O meu pai dizia que sim, mas não ficava, tinhamos sempre um mês de jornal adiantado.