Foi uma partida familiar que teve repercursões não calculadas. Não deixa de ser caricata, podendo até servir como uma estória daquelas que terminamos com a famosa expressão " moral da estória"...
Um dos passatempos preferidos da miudagem era tocar campainhas. E fugir. E depois, à socapa espiar o apanhado vir à porta ver quem era, enquanto nos riamos da patifaria.
Numa noite de verão, os "netos" da família decidiram fazer das suas. Eu incluída. Aliás a ideia foi minha. Sabia quem tinha campainhas novas, e sabia que um tio nosso tinha posto uma com um som muito catita. Lá fomos nós. Um jogo de toca e foge, que começou ao pé da casa do avô e se estendeu até ao fim da rua. Última casa visitada, a do tio Manel.
Eu espero distanciada. O Tozé toca, olha para a varanda, toca outra vez e foge. Eu também. Rimo-nos quando chegamos a casa do avô. Noite em grande.
Mas ao outro dia é que havia de ser lindo. Como se devia esperar, o resultado.Não aquele que esperávamos.
O meu tio conta ao meu avô que lhe iam assaltar a casa na noite anterior, tocaram à campainha a ver se estava gente em casa. ( ladrões corteses).Vim à varanda e ainda vi um "meliante" a correr.
O meu avô conta à minha mãe e por sua vez a minha mãe ao meu pai à hora de almoço. Eu também ouço. Começo-me a rir perante as caras de espanto dos meus pais. Só depois de conter o riso explico, o meliante era o meu primo, e foi o nosso passatempo a seguir ao jantar da noite anterior. Tocar as campainhas e fugir.
Os meus pais também se riram. O meu primo não, ficou com medo, sabe-se lá, de que o meu tio o apanhasse julgando-o ladrão e lhe desse uma "Trepa".O facto é que o nosso tio nunca soube a verdade. Conto agora apenas porque já se passaram muitos anos e acredito que o " crime" já tenha prescrito, de qualquer forma, acabou-se a brincadeira do toca e foge naquela noite.Pelo menos da nossa parte.