Há uma música que povoa as minhas memórias de infância, é uma coisa assim sem tom nem som mas que nunca consegui esquecer. Começava com uma voz entre o esganiçado e o rouco e tinha uma letra bastante elucidativa.
Ia por aí abaixo
Um carro aos trambolhões
Uma carroça sem rodas
e um cavalo sem travões
Ai txic txic txic txic
( ler num registo tipo M á rio Viegas)
Como vêm uma pérola da música portuguesa e que só no fim de semana passado, enquanto em família se divagava sobre músicas da nossa vida ( esta era a música que eu nunca escolheria para a minha música) descobri onde passava este best off musical dos longínquos anos 80. Passava na rádio Sobrado e era uma de entre muitas outras músicas do género.
Desconhecia até então que Sobrado já teve rádio, e pelos vistos era uma rádio e tanto, pois contribuiu vivamente para a expansão da música portuguesa e do anedotário sobradense . Conta quem ouvia que não raras vezes, os locutores num claro espírito de abertura e partilha à comunidade local, partilhavam segredos das suas vidas pessoais, facto que ocorria sempre que se esqueciam de desligar o microfone e transmitiam assim,em sinal aberto as suas ânsias e frustrações face à vida. Uma das situações relatadas dizia respeito ao casamento de um dos locutores e começava da seguinte forma:
Seguimos agora para mais um momento musical ( ler com a voz radiofónica)...
Ainda no ar mas falando como se não estivessem.
- Então fulano quando é que te casas?
- Eu ( pausa ocupada com palavrões ao gosto do leitor) era o que me faltava casar com essas ( palavrão novamente ao cuidado do leitor) eu tenho mais que fazer da minha vida do que aturar essas ( novamente o dito palavrão, esse mesmo que o leitor está a pensar).
E a conversa continuava animadamente até um dos interlocutores se aperceber da gafe e emendar com uma composta frase do género:
- ehnnn pedimos desculpas aos nossos oubintes plo incedendente de à bocado.
E o mais curioso é que em pesquisas na internet sobre este fenómeno ( Rádio Sobrado) descubro que estas emissões motivaram uns jovens para fazer rádio, e mais estranho ainda foi a génese ( por assim dizer) de uma rádio do Porto. E esta hein?
Apetece-me mesmo dizer, há coisas fantásticas não há !?