Nem só de estórias se fazem as gentes de Sobrado, há dias entre os papeis amontoados na minha secretária encontrei uma folha com algumas quadras, o título aparecia sublinhado e a letra era bem desenhada. Os erros ortográficos e o punho tremido de quem o escreveu não lhe tiraram a beleza, pelo contrário acrescentaram autenticidade.
As quadras que se seguem são escritas por um sobradense de 80 anos, que apenas andou sete meses na escola, mas que não se deixou vencer pelo precoce cortar de asas, aprendeu a ler e a escrever por sua conta e como o próprio diz " bem ou mal lá vou fazendo os meus gatafunhos!".
As quatro estações
As quatro estações do ano
Quando começam a aparecer
começa-se a semear
para mais tarde colher
Entramos na primavera
a juventude do ano
dêmos passos bem firmes
e não passos de engano
Nesta quadra do ano
começa-se a semear
mas até à colheita
muito temos de esperar
Entramos noutra quadra
pois entramos no verão
tempo de muito calor
é o mês do s. joão
As sementeiras estão feitas
tudo está a crescer
com o passar do tempo
Tudo vai amadurecer
Quando vier o setembro
vemos o verão terminar
tempo de sol tão quente
que custa aguentar
Entramos em Setembro
tempo das colheitas
chegando a S. Miguel
ficam todas feitas
Caminhamos para outra quadra
é o Outono que aí vem
até a idade da nossa vida
não perdoa a ninguém
O Outono entrega ao Inverno
O Inverno tudo aceita
O Outono contente
por ter tido uma boa colheita
O Inverno coitado
O que há-de fazer
Nem semeia em colhe
Como há-de colher
No Inverno, tempo de frio
Não semeia nem colhe
fica tudo vazio
Não me quero alongar
Dou esta por terminado
a toda esta gente
eu digo, muito obrigado
António Pinto