Domingo, 22 de Junho de 2008

O S. João está à porta e ao contràrio do ano transacto, em que dediquei o mês de Junho inteiramente às estórias dos bugios e dos mourisqueiros, este ano o tempo foi escasso e a recolha pouco frutífera. Aproveito então para centrar a estória de hoje nas estórias do presente e na vivência do S. João por parte dos mais novos.

 

É comum por este tempo ver os mais novos a executar as danças da bugiada e da mouriscada, quem sabe treinando para um dia mais tarde. A estória de hoje passou-se á cerca de 15 dias na presença do Velho da bugiada, de um miúdo de 4 anos e de mais duas pessoas.

 

- Tu és o velho? pergunta o miúdo.

- Sou. Responde o velho.

- Eu sei dançar de velho melhor que tu. Desafia a criança.

Os presentes entreolham-se, contendo o riso e desafiam-no. O garoto começa a dança, de uma ponta à outra da sala, olhos fechados, compenetrado, bate os guias e os rabos imaginàrios. Não responde aos piropos. Salta a pés juntos. Cara de paixão. Dança de quem sabe o que está a fazer. Termina após cinco minutos de demonstração gratuita. Olha os presentes, que o olham a rir-se, fixa o velho e apenas lhe diz:

- Viste!?

 

É desta paixão que são feitos os sobradenses. A criança tem 4 anos, os bugios da família são escassos e o mais acérrimo destas andanças era o Bisavô ( e já morreu), que foi Velho da bugiada muitos anos.



publicado por estoriasdaminhaterra às 22:20
Quarta-feira, 18 de Junho de 2008

As conversas de vizinhança costumam ser fruto de boas estórias. Separando o trigo do joio lá de quando em vez aparece uma digna de figurar no blogue. É assim a de hoje. O que começou como conversa para entreter uma caminhada diària acabou por vir aqui parar.

Contava-me a minha companheira que o português é uma língua muito traiçoeira, que já não era pela primeira nem pela segunda vez que se sentia atraiçoada pela língua mãe. Não pude deixar de concordar, obviamente. Ainda para mais depois do que ela me contou em titulo de exemplo e de galhofa.

 

Estando um pai sobradense, daqueles antigos lavradores já entradotes da idade e na bebida sentado com a filha e a esposa na cozinha, tentava o ancião explicar á esposa quem era um dos rapazes lavradores mais trabalhadores da redondeza.

- Sabes é aquele , ai como é que ele se chama!?

E dizia a filha com aquele sotaque sobradense traiçoeiro, mas na ânsia de avivar a memória ao pai, Noé.

-Éu sei bem quem ele é, mas não me vem á ideia o nome...

- Noé. Retorquia a filha.

- É pois, dizia o pai, mas quem é que sabe sou eu ou tu!? É que está o nome debaixo da língua...

- Noé, tornava a filha.

- Se me voltas a dizer que não é quando eu sei que é levas semelhante coça!

Até que finalmente, apercebendo-se a filha da confusão do pai e da sua má explicação lhe explicou com todas as letrinhas:

- Oh senhor meu pai, eu estou-lhe a dizer que o nome do tal rapaz é Noé. É assim que ele se chama.

Ou que bruscamente lhe responde o pai:

- E não sabias ter dito antes em vez de estares aí não é não é, quando eu sabia que era!

 

Nota: Era por essas e por outras que as minhas professoras sempre me disseram " menina é escrever tudo com frases completas e bem explicito" Elas lá teriam a sua razão...

 

 



publicado por estoriasdaminhaterra às 21:58
O blogue estoriasdaminhaterra recolhe estórias da tradição oral sobradense bem como factos da vida comum de uma pequena vila dos arredores do Porto...
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