Quarta-feira, 27 de Agosto de 2008

 

O roubo de fruta para matar a fome e tirar a barriga de misérias era prática comum entre a garotada sobradense de antigamente.

A estória de hoje relata uma dessas investidas de um grupo de gaiatos a pessegueiro da zona da Costa.

Numa dessas noites de luar de Agosto a garotada rondava as árvores de fruto da zona, pé ante pé tentavam perceber ( pelo cheiro) as árvores que tinham a fruta mais madura e mais á mão de semear. Calhou a sorte irem dar a um quintal sobranceiro ao caminho da Costa e pertencente a dois velhotes sem filhos. Mas ditou o azar de o quintal estar vigiado por um dos donos que, sentado num barraco descansava uma caçadeira no regaço. A malta pára. Mira a cena e aguça o ouvido. O velho ressona. Ronca a plenos pulmões. É a hora. pé ante pé chegam-se perto do idoso e retiram-lhe a arma do regaço, encostam-na perto dele mas suficientemente longe para este ter de se levantar em busca dela. Sobem o pessegueiro. Qual perfume e qual sabor a hora era de os deitar para a "soleirada" e dar á sola do quintal. O dono dorme. Descem da árvore, saltam o muro e... ala que se faz tarde. O dono acorda. Contava ele que com um barulhito assim Puc Puc foi ver o pessegueiro e na sua linguagem peculiar de quem é meio "tatarelho " "nem um pesssooog... Ah larápios".

 

Soleirada - Por dentro da camisola ou camisa.

Tatarelho- Alguém tato, que por falta de dicção não se expressa bem.



publicado por estoriasdaminhaterra às 21:10
Segunda-feira, 18 de Agosto de 2008

Com o passar do tempo as "mezinhas" populares tendem a cair cada vez mais em desuso e em esquecimento. Longe vão os tempos em que se curavam feridas e maleitas com teias de aranha, açúcar loiro, aguardente, petróleo e chás de ervas. Os tempos mudam e as sabedorias antigas passam a ser isso mesmo, antigas e sem lugar nos dias actuais.

A estória de hoje relata uma maneira muito particular destas interpretações e aplicações da sabedoria popular...

A bricolage ( que em sobradense corresponde a biscates ou biscatada ou muito simplesmente berbicachos) sempre foi um entretenimento masculino de fim de semana, uma maneira de mostrarem a sua versatilidade e habilidade manual sempre que uma porta emperra ou um ano se fura.

Estando num desses sábados um sobradense ( também ele já recorrente nestas estórias) a fazer uso do martelo, distraiu-se e errou o alvo acertando em cheio no dedo. Grande porra. Mira o dedo e lembra as mezinhas populares. Solução. Aguardente para a cabeça do dedo. O ajudante vai buscar e entrega a garrafa ao enfermo que, para espanto de quem assistiu, mete o gargalo á boca emborcando três ou quatro goles. Curiosos interpelam-no:

- Então não era para deitares a aguardente no dedo?

- E então ela por onde foi também vai lá ter!

Remédios caseiros, com interpretações e posologias caseiras é o que é.


sinto-me: Remédio tóxico
música: marteladas certeiras

publicado por estoriasdaminhaterra às 15:35
O blogue estoriasdaminhaterra recolhe estórias da tradição oral sobradense bem como factos da vida comum de uma pequena vila dos arredores do Porto...
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