Os tempos estão a mudar. É com alguma nostalgia que olho para os miúdos de hoje e não lhes vejo as brincadeiras da velha infância. Mudam-se os tempos mudam-se as modas. Numa altura que parece que a ordem do dia é falar de miúdos mal comportados, insubordinados, delinquentes e outras coisas " simpáticas" do género venho lembrar as delinquências dos meu tempos de infância e que decorriam no escasso quilómetro que separava os miúdos da minha rua da minha escola.
Erámos um grupo de 7/8 rufias todos mais ou menos da mesma idade. Vínhamos a pé para casa, pela ponte românica de Stº André, agra acima, vasculhando os campos, o rego da água da pesqueira e o pomar nas traseiras da igreja em busca de aventuras. As nossas aventuras resumiam-se a "roubar" fruta do pomar ( que o dono nos tinha ensinado a "roubar" apenas a do chão) a passar o túnel da água por baixo da estrada ( no verão) a atirar pedras ao rio, tentando acertar nas trutas e, os mais afoitos a passar a ponte nova do lado de fora do gradeamento ( de maneira que uma escorregadela dava direito a cair no meio do rio), eram estas as nossas aventuras.
Crescemos assim, um tanto tontinhos nas brincadeiras mas felizes das nossas patifarias, tanto que quase vinte anos num encontro casual de dois destes rufias um relembra o outro de uma patifaria há muito esquecida, o roubo ( falhado)de uma espiga.
Caminhando pela beira do rio vinham os sete "salteadores da arca perdida" entre a galhofa e as rasteiras o percurso percorria como habitualmente, sem percalços , até que no meio do carreiro que seguíamos um de nós encontra uma espiga no chão. Apanhamo-la e entreolhamo-nos, um propõe assá-la no forno da avó, outro dá-la ás galinhas, outro deixá-la e no meio desta indecisão surge-nos o dono, homem já de outras estórias do blogue e que de maneira hostil nos chama ladrões e nos persegue ( hoje acredito que tenha sido a diversão dele naquela tarde), desatamos numa correria louca agra adiante com ele no encalço e a espiga connosco , mas o nosso destino estava traçado ele no nosso encalço gritava " Patifes, dai-me a espiga já" e nós lá demos, com medo do tabefe e dos nossos pais saberem da habilidade, deixamo-la cair no meio do campo e fugimos a sete pés. Ainda hoje quando passo naquele carreiro no meio da agra me lembro do " dai-me a espiga já" e do medo que senti em poder ser apanhada com uma espiga que estava no chão...