Hoje pintei uns óculos aos meus alunos porque eles acharam que os escritores usam todos óculos ( note-se que estou a escrever sem a minha prótese habitual). Os meus pequenos escritores estiveram a treinar a génese na linha com grafismos simples, para um dia escreverem e escreverem e escreverem...
E enquanto " escreviam" num escrever repetitivo de quem tenta apanhar-lhe o jeito a minha mente rebuscava estórias de escritores mais ou menos sérios. O resultado foi a estória que se segue...
A reunião como sempre decorria animadamente com os cerca de 30 presentes enregelados a falarem uns para cada lado enquanto a " direcção" não se decidia a impor um pouco de ordem na sessão.
A conversa começou de circunstância e acabou profunda e reflectida.
Sentada ao meu lado uma mãe deslindava as habilidades do primogénito. Aluno empenhado que começara a escrever e a ler aos 5 anos. Um caso de criança sobredotada. Brilhante em todas as áreas, principalmente na escrita. Eu ouvia atenta e ía dando os palpites que a profissão me permite. Assim decorria a conversa. E assim decorreu até a mãe estabelecer as normais comparações entre progenitores e descendentes.
A mãe também era versada nas artes da escrita. Escrevia bastante e era uma das suas paixões mais significativas. Conseguia escrever horas, abstraída de tudo e de todos, presa apenas á sua paixão.
Eu, presa aquelas palavras efusivas, questionei que tipo de escrita fazia, prosa, poesia...
Nomes, responde apressadamente a interlocutora.
Ás vezes sento-me e começo a escrever o meu nome todo, sou capaz de o escrever quinhentas vezes, outras vezes ao domingo á tarde escrevo os nomes e as datas de nascimento da família toda... Escrevo até não poder mais...
E foi assim que aprendi que também podem haver escritores de nomes e escritores de nomes copistas...
Bolas, quinhentas vezes!?