Que Sobrado é uma terra rica em estórias já devem ter reparado. São estórias que na sua maioria retratam a vida social dos seus habitantes com veracidade relativa, no entanto o fantástico e o sobrenatural também têm lugar na imaginação e na vida sobradense . Já tive oportunidade de relatar algumas das estórias que assentam numa matriz fantasiosa e até mesmo sobrenatural, hoje relato mais uma ( bastante recente) daquelas que podem muito bem ser contadas à lareira numa dessas noites de inverno que se nos avizinham...
O cemitério de Sobrado é dividido em duas partes, o novo e o velho. No cemitério velho, o primeiro lanço de campas quando se entra pelo adro, além das normais campas, comuns em qualquer cemitério podemos ver umas poucas " capelas" familiares.
Estas capelas (ou mausoléus ) outrora sinal de riqueza ( hoje mais de vaidade) vão assim " decorando" o cemitério velho e claro alimentando estórias de superstições e coisas de outro mundo.
A estória de hoje é uma dessas. Há cerca de 6 ou 7 anos foi assassinado um bem sucedido empresário sobradense . A família enlutada e ferida com tão inesperada morte decide fazer uma última homenagem ao defunto. Manda construir um mausoléu no cemitério velho, mesmo ao lado de uma outra capelinha existente.
A capela já existente pertencia a um rico lavrador, falecido há bastante tempo e que era conhecido pelo seu mau feitio.
Começadas as obras, o zunzum que se ouviam vozes perto da capela começou a circular pela vila. Vários trolhas se recusaram a ir para a obra á conta das vozes, até que o improvável aconteceu. Andando um dos trolhas a encher a capela do empresário do lado da capela antiga, começa a ouvir uma voz sobre o ombro que subtilmente lhe dizia: " estás a encostar muito as costelas para estas bandas...", o trolha não ligou muito, mas a voz continuou a insistir até que, sem mais nem quando o trolha sente um enorme tabefe fazendo-o cair do andaime.
Não se sabe o que foi, uns dizem que foi o espírito do vizinho da capela nova ( coisa ruim portanto) , outros que foi a imaginação e o medo, o certo é que o trolha apanhou um susto daqueles e a obra esteve parada bastante tempo até a comunidade se " esquecer" daquele "mau vizinho" e ganhar coragem para finalmente terminar a obra.