A estória de hoje tem algumas semelhanças com uma outra que contei há tempos.Mais uma vez a paixão incondicional dos sobradenses pela bugiada.
A esposa de um bugio ( dos doentes) havia falecido uma semana antes do s. João. Fez-se o enterro e deu-se inicio ao luto. Mas o dia de s. joão aproximava-se e o bicinho da paixão começou a mexer no viuvo.
Dia de S. João. Pela freguesia ouvem-se os foguetes e os guizos dos bugios que rumam a casa o velho. O viuvo começa a impacientar-se ao ouvir e ver os seus camaradas passarem. Vem à janela, uma, duas, três vezes, os vizinhos estão a topá-lo ( conhecedores da sua paixão pela bugiada)... Que diacho... Como haveria de resistir à paixão!?
Esperou até meio da manhã, não aguentou mais. Vestiu a farda, a careta e o chapeú, olhou-se ao espelho e dirigiu-se a uma porta traseira. Sorreiteiramente tentou esgueirar-se sem que os vizinhos o vissem. Sem resultado. Quando estava quase " safo", um vizinho mais atento espeta-lhe a pergunta " Então fulano já vais!?".
Como uma criança apanhada a roubar, o bugio vira-se e em jeito matreiro responde:
- Já ela já 'tá p'ra(1) lá à oito dias, agora vou p'ra lá também! seguindo caminho para matar a negra(2).
(1) O já estar para lá refere-se ao cemitério da vila( onde a mulher estava enterrada), que fica no centro e junto ao local onde se desenvolve a festa, obviamente o bugio nao ia para o cemitério mas sim para a festa ( lugar de Campelo).
(2) Matar a negra, não, não é uma expressão racista, matar a negra significa matar a paixão, a paixão é negra , a paixão é muita. È uma expressão muito utilizada em Sobrado, normalamente ligada á festa de S. João.