O Maria Rosa era um habitante de Gandra, logo por natureza " inimigo" dos Sobradenses. Vinha todos os dias ao café a Sobrado ( em Gandra não haviam cafés), de cabelo ao vento, e a bater o tacão das suas botas mexicanas. A sua postura arrogante e diferente dos demais fez com que os rapazes sobradenses o apelidassem de Maria Rosa e decidissem fazer-lhe uma espera. Assim, na calada da noite, na estrada que liga Moreiró a Sobrado, do meio do monte saíram-lhe uma mão cheia de sobradenses, com uma tesoura em riste. Fizeram-lhe a tosquia com hábil precisão, cortando-lhe as gadelhas em cruz latina. O Maria Rosa, que foi obrigado dessa forma a regressar a casa e cortar o cabelo " à homem", ainda seria objecto de outra estória na manhã seguinte ao acontecido. Vindo as irmãs deste de trabalhar ( da CIFA) e passando ao local escolhido pelos barbeiros sobradenses, vendo o cabelo no chão e em lugar ermo, desatam a correr até casa pensando que seria bruxedo. Só ao chegar a casa, viram o bruxedo que tinha sido feito...
A estória remete-me para os rituais de praxe académica praticadas nas universidades portuguesas, nas quais ( em algumas situações) se corta o cabelo aos caloiros no sentido de "uniformizar" e " rebaixar" , o contexto aqui é diferente visto que nenhum dos intervenientes era estudante universitário, mas a motivação parece-me similar, a vontade de humilhar e inferiorizar aquele que lhes parecia menor, no caso o gandarense. Só deve ter faltado mesmo a capa negra e o " Sed praxis dura praxis"...