Cresci no meio de pipas (vazias). O meu avô acumulava nas suas funções de carpinteiro as práticas de tanoeiro da terra. Era com enorme satisfação que, quando garota me sentava nalgum pipo pequeno e ( obrigando-o a fazer uma pausa nas suas lides) ouvia as suas estórias. Tinha, e tenho, especial adoração por uma de um gago, que passo a contar.
Havia um lavrador da terra que tinha como moço, um rapazote gago. O facto nunca interferiu muito nas actividades agrícolas, até porque o rapaz utilizava mais os braços que a boca. Não obstante, um dia, vindo patrão, moço, duas vacas , o carro e uma pipa em cima, a pipa começou a perder vinho. O moço que seguia o carro de bois, ao ver a cena, aflito tenta chamar o patrão que seguia junto das vacas, nada feito a voz não saía. Tenta de novo, e outra vez, e mais uma e nada até que, quando a pipa já ia quase a meio consegue finalmente dizer " E-e-e cá ohohohoho pa-pa-pa-pa-trão a pi-pi-pi-pa vai a-a-a-a dei-dei-dei-tar!", dito isto o patrão irado espeta-lhe um safanão e pergunta porque não o avisou mais cedo, que cantasse quando fosse assim, ao que rapidamente o gago começa em alegre sinfonia o cantarol " Oh patrão a pipa vai a deitar , Oh patrão a pipa vai a deitar...".
Da cara do patrão, não sei como vos pinte, mas parece que não achou piada ao cantarol.