Mas a festa de s. João de Sobrado não é só a lenda, existem outras vertentes ( possivelmemte importadas de outras festividades), os "trabalhos" da tarde que incluem o ritual da cobrança dos direitos, a sementeira, gradar e lavrar a praça terminando com a dança do cego. São, de certo modo um complemento da festa, que nos transportam no tempo e na imaginação.
Cobrança dos d'reitos
È costume dizer-se sobre os sobradenses que " andam sempre ao contrário", possivelmente a expressão surge graças ao facto de estes rituais ( agricolas) serem realizados no dia de S. joão em ordem inversa.
Aparece o cobrador de impostos ( bugio), montado num burro às avessas, que vai de tasco em tasco cobrando os impostos. Leva um livro ( livro do albino) onde aponta todas as contas, molha o lápis no ânus do burro. Os tasqueiros pagam o tributo em géneros, normalmente bebidas. A linguagem brejeira e a algazarra dos bugios que o acompanham tornam a cena surrealista.
Novamente montado num burro, ás avessas, percorre o passal um lavrador ajudado pelos bugios ( que guiam o animal) que lança sementes na praça ( as sementes são nada mais nada menos que serrim, escrementos e outrora baganha do linho). O lavrador dá a volta á praça, enquanto ( novamente) vai estabelecendo diálogos brejeiros com bugios e assistentes ( que na festa nunca são assistentes passivos mas sim activos, na medida em que participam se misturam).
A grade
O ritual de gradar a praça, começa também com o lavrador e os bugios, seus ajudantes. Há uma grade improvisada, puxada por um burro ou cavalo. O lavrador vai gradando a praça, ao sabor do percurso traçado pelos bugios ( nem sempre alinhado, mas sempre o mesmo). O lavrador vai discutindo com os bugios afim de acertarem o percurso. Mistura-se na assistência, " esfrega-se" com a sua roupa imunda no público. Prossegue a empreitada, fazendo o percurso circular do passal. A grade termina desfeita.
A lavra
Novamente o lavrador e os bugios. A mesma cena, instrumento agricola diferente. O mesmo percurso.
Um dos pontos altos da festa. Um sapateiro, a mulher que fia, um moço que ajuda. Um cego que chega guiado por uma vara pelo seu moço. O cego cai. O moço de cego rapta a mulher e sapateiro. O sapateiro enfurece-se com o Cego, bate-lhe com uma vara desalmadamente, mas rapidamente se apercebe que o ladino moço lhe levou a mulher ( que não andava muito satisfeita com a vida que levava). Procura-os. Encontra o moço que o desafia para o jogo do pau, vence-o, é restituída a ordem inicial. No desenrolar a cena, os diálogos brejeiros, a lama e a bosta são uma constante.
Nota: todas as personagens aqui referidas se encontram mascaradas.
Nota 2: Mais informações sobre a lenda, e outras particularidades da festa no blogue http://bugiosemourisqueiros.blogspot.com/ no link sobre a festa